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Mudanças climáticas e poluição do ar: entenda a relação

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Mudanças climáticas e poluição do ar: entenda a relação

As mudanças climáticas e a poluição do ar derivam do mesmo lugar: atividades industriais com uso intensivo de recursos naturais. Somente por isso, já é possível compreender como essas questões se sobrepõem. Nesse artigo, você vai entender quais são as principais relações entre as pautas e o que as diferencia.
Colapso do clima e poluição atmosférica: diferentes problemas com a mesma raiz
mudanças climáticas e poluição do ar
Se engana quem acha que a questão climática não está diretamente relacionada com a poluição atmosférica. Ambos problemas estão conectados pelas fontes emissoras e, também, alguns tipos de poluentes. O que os difere, em certos casos, são os fenômenos e efeitos ligados a cada um.
Por exemplo, quando se trata estritamente de poluição do ar, lida-se com determinados tipos de poluentes que impactam diretamente na saúde da população. Por outro lado, no caso das mudanças climáticas o foco é mais abrangente, pois impacta o planeta em grande escala, por meio da alteração do clima.
Contudo, é importante salientar que as partículas poluidoras são da mesma fonte. No caso, atividades industriais no geral, como agropecuária e o setor de transporte. Assim, tanto a poluição atmosférica quanto o colapso climático derivam de ações antropogênicas, incentivadas por um estilo de vida que usa recursos naturais de maneira intensiva. Além disso, os poluentes responsáveis interagem constantemente entre si, o que torna as duas pautas ainda mais interligadas.
A seguir, uma breve elucidação sobre a conexão entre poluição atmosférica e mudanças climáticas, através dos principais fenômenos ambientais relacionados à elas.
Poluição Atmosférica e seus efeitos na saúde humana
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A contaminação do ar está especialmente ligada a piora da saúde da população e o aumento de doenças. Podemos considerar como um poluente qualquer partícula que torne o ar impróprio para a manutenção da vida. Portanto, a quantidade de substâncias poluidoras é grande. Para facilitar a compreensão desse assunto, os poluentes são divididos em dois grandes grupos:
1- Poluentes Primários: emitidos diretamente das fontes de emissão.
2- Poluentes Secundários: formados através da interação entre poluentes primários e componentes já presentes na atmosfera.
Os poluentes oficialmente utilizados para medir a qualidade do ar são:
- Material Particulado
- Partículas Totais em Suspensão (PTS), Partículas Inaláveis (MP10) e Partículas Inaláveis Finas (MP2,5)
- Fumaça (FMC)
- Dióxido de Enxofre (SO2)
- Monóxido de Carbono (CO)
- Oxidantes Fotoquímicos, como o Ozônio (O3)
- Compostos Orgânicos Voláteis (COVs)
- Óxidos de Nitrogênio (NOx)
- Chumbo
- Enxofre Reduzido Total (ERT)
Para compreender mais sobre a classificação, origem e efeitos de cada poluente, indicamos essa postagem da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB).
Doenças Respiratórias
Como mencionado anteriormente, a poluição atmosférica refere-se sobretudo a doenças causadas pela baixa qualidade do ar. Por exemplo, as doenças que afetam o sistema respiratório possuem profunda ligação com o ar contaminado. Nesse caso, existe uma ampla literatura científica comprovando essa correlação, como essa pesquisa realizada por um grupo de cientistas da FMUSP e coordenação de Paulo Hilário Saldiva, um dos médicos embaixadores do ISS.
Segundo o estudo, o risco de morte causado por doenças respiratórias pode aumentar em até 12% no inverno, fase do ano em que ocorre um aumento no nível de poluição do ar. Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores realizaram coletas de dados em prontos-socorros de São Paulo e observaram os efeitos crônicos da má qualidade do ar em ratos saudáveis.
Dessa maneira, após 3 meses expostos em locais de alto índice de poluição, os ratos apresentaram sintomas de rinite alérgica e asma. Ademais, quase todos tiveram suas defesas pulmonares reduzidas e sofreram um aumento no risco de contrair câncer.
Os agentes contaminadores
Os poluentes responsáveis pela baixa no quadro de saúde dos ratos são os que existem em maior quantidade em grandes cidades, como o monóxido de carbono (CO). Essa substância ocupa o primeiro lugar em concentração, com 1,9 milhão de toneladas emitidas por ano. As fontes emissoras são os carros a gasolina (49%), diesel (28%) e álcool (17%).
Além do monóxido de carbono, outros poluentes presentes em grande quantidade no ar, segundo dados coletados pelo professor Gyorgy Bohm, da FMUSP, são os hidrocarbonetos (430 mil toneladas por ano), óxido de nitrogênio (450 mil toneladas por ano), óxido de enxofre (130 mil toneladas) e material particulado (95 mil toneladas).
Os efeitos da presença de substâncias contaminantes no ar de São Paulo são, principalmente, problemas de saúde respiratórios. Os dados coletados na pesquisa indicam um aumento de 25% na procura de prontos-socorros infantis em dias que a poluição na cidade batia altos níveis de poluição atmosférica. Ademais, os números de internação por motivos respiratórios no inverno pode aumentar até 15%.
Mudanças Climáticas e poluição atmosférica: a primeira é resultado da outra
mudanças climáticas e poluição do ar
As mudanças climáticas são, de certa forma, uma das consequências da poluição do ar. Porém, a maioria dos gases que estão alterando o clima em escala são diferentes dos que já foram mencionados acima. Essas substâncias são chamadas de Gases do Efeito Estufa (GEEs) ou então Poluentes Climáticos de Vida Curta (PCVCs). São eles o carbono negro, o metano, o ozônio troposférico e os hidrofluorcarbonetos (HFCs).
O carbono negro é um dos componentes do material particulado, que atinge negativamente os sistemas respiratório e sanguíneo. Já o metano tem grande potencial de aquecimento global, além de ser precursor na formação do ozônio troposférico. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, o metano tem 86 vezes mais impacto no clima do que o dióxido de carbono. Enfim, os HFCs, assim como o metano, também apresentam grande potencial de aquecimento global. Abaixo, uma tabela da WRI Brasil com dados da Coalização Clima e Ar Limpo apresentando a origem e os efeitos de cada um deles:
poluentes climáticos de vida curta na saúde e no clima
Porém, é necessário enfatizar que poluentes prejudiciais à saúde e compostos relacionados às mudanças climáticas podem ser emitidos ao mesmo tempo e interagirem. Um bom exemplo se dá através da queima de carvão, em que partículas finas e prejudiciais à saúde são liberadas na atmosfera junto a gases de efeito estufa como metano.
Para saber mais sobre os malefícios à saúde causados pelos PCVC, sugerimos essa pesquisa, realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), pela Universidade de São Paulo (USP) e pela Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat). O levantamento de dados mostra os efeitos que as queimadas na região da Amazônia Legal provocaram no bem-estar de crianças.
Efeito Estufa e Aquecimento Global
Os efeitos das emissões dos Gases do Efeito Estufa nem sempre são ruins. Isso porque o Efeito Estufa é um fenômeno natural, que possibilita a existência da vida na Terra. Entretanto, o que está acontecendo nesse exato instante é uma elevada disseminação desses gases, de origem antropogênica. Essa situação ocasiona o surgimento do aquecimento global.
Um exemplo simples para explicar o efeito estufa e o aquecimento global é comparar o corpo humano ao Planeta Terra, o efeito estufa a um fino lençol e o aquecimento global a um edredom grosso. Quando estamos em uma noite de verão, normalmente colocamos um lençol sob o corpo, apenas para manter a temperatura do corpo e não sentir frio durante a noite. O efeito estufa faz exatamente isso com a Terra. Os GEE retém uma parcela da radiação solar que incide no Planeta, ao impedir que o calor seja totalmente devolvido ao espaço. Assim, os gases preservam um equilíbrio térmico e possibilitam que a vida se desenvolva.
Porém, à medida que a emissão de GEE é intensificada pela ação humana, ocorre o chamado aquecimento global. Na analogia, a alta nos níveis de gases na atmosfera pode ser equiparada a alguém colocando um edredom bem grosso em cima do lençol, em plena noite de verão. Imaginou o calor? Pois bem, é isso que acontece com o Planeta. De forma técnica, a acumulação de muitos gases na atmosfera bloqueia a dispersão dos raios solares de volta para o espaço e preserva muito mais calor do que o necessário. O resultado disso é um aumento na temperatura média global e, consequentemente, as mudanças climáticas.
Conclusão
Diante dos dados apresentados, pode-se concluir que a agenda do combate da poluição atmosférica beneficia diretamente a luta pelo clima. Especialmente, porque ambas as questões derivam das mesmas fontes. Ou seja, ao tratar de pautas relacionadas à qualidade do ar, como: monitoramento dos níveis de poluentes, incentivo a pesquisa na área e divulgação desses dados para a população, estamos cuidando da saúde humana e do planeta, ao mesmo tempo.
saúde infantil e poluição do ar
O que pode ser feito?
Uma das diferenças apontadas entre os gases causadores do aquecimento global, chamados poluentes climáticos de vida curta (PCVC), e o dióxido de carbono (CO2) é o tempo que permanecem presos na atmosfera. Por exemplo, o ozônio, um PCVC, fica retido na atmosfera por dias ou semanas, enquanto o CO2 pode demorar 100 anos ou mais para ser eliminado. Isso quer dizer que é possível colher mudanças rápidas se o foco das políticas públicas for reduzir os PCVC imediatamente. Inclusive, essa é a orientação dos cientistas.
Segundo esse estudo da Organização Meteorológica Mundial, estima-se que reduzir poluentes climáticos de vida curta de fontes importantes como congestionamentos, fornos a lenha, resíduos, agricultura e indústria até 2030 pode reduzir o aquecimento global projetado para 2050 em até 0,5°C.
Portanto, existe muito a se fazer. Especialmente no Brasil, um país que ainda engatinha na questão ambiental e tem números bem distantes dos recomendados pela Organização Mundial da Saúde. Principalmente por falta de recursos e incentivo do poder público. É preciso, em primeiro lugar, entender o cenário nacional da qualidade do ar. Ou seja, investir em pesquisa e divulgação científica.
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