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É possível ter desenvolvimento econômico sem poluir o meio ambiente?

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É possível ter desenvolvimento econômico sem poluir o meio ambiente?
Desenvolvimento econômico aliado com preservação ambiental é um paradoxo? Dentro do conceito de “Desenvolvimento Sustentável” não. A concepção da Ecoeficiência tem como objetivo abarcar a relação entre esses dois princípios de forma harmoniosa. Entretanto, é preciso estar atento a discursos bonitos, porém vazios na prática, como o Greenwashing. Esse tipo de conduta denuncia o persistente interesse em reproduzir os mesmos paradigmas que nos levaram ao colapso ambiental, entre eles a obsessão pelo lucro.
Introdução
Esse talvez seja o maior dilema do século XXI: Afinal, é possível que um país se desenvolva economicamente sem poluir o meio ambiente?
As respostas não são únicas e muito menos simples. Neste artigo, iremos apresentar alguns conceitos e problemáticas que envolvem esse questionamento. A princípio, vamos abordar o conceito de desenvolvimento econômico, ecoeficiência e como eles se relacionam com sustentabilidade. Depois, vamos discutir algumas problemáticas envolvidas nessa relação, como o Greenwashing.
Para exemplificar esse tema, o filme Lorax é um prato cheio de referências. Na trama, conhecemos a história do “Uma-vez-lido”, um homem ambicioso que inventou um produto chamado Thneed. A matéria-prima desse objeto são árvores e, por isso, Uma-vez-lido está determinado a desmatar toda a floresta para conseguir seu almejado lucro. À medida que a destruição começa, acompanhamos os impactos da sua ganância no mundo: rios contaminados, vida animal comprometida, ar poluído e etc. Assim, todos acabam sendo prejudicados pela sede de poder do homem.
A situação exposta no filme é uma projeção do que ocorre no mundo. Portanto, podemos afirmar, que não existe conciliação entre sustentabilidade e a obsessão por lucro representada. É preciso, em primeiro lugar, questionar alguns pilares do sistema socioeconômico atual como: o consumismo e a concentração de renda. Essas duas questões nos afastam de um desenvolvimento econômico que garanta recursos para as próximas gerações.
cena do filme “Lorax”.
O desenvolvimento econômico e a preservação ambiental
Para entendermos melhor a respeito do cruzamento entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental, precisamos falar primeiro sobre Desenvolvimento Sustentável.
O que é Desenvolvimento Sustentável?
O termo “Desenvolvimento Sustentável” surge na década de 80, no relatório de Brundtland. Esse documento foi o resultado da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento - CMMAD, que foi presidida por Gro Harlem Brundtland, na época primeira-ministra da Noruega. A partir desse momento, um novo olhar sobre desenvolvimento foi adotado. Ao adicionar a Natureza nessa equação, passou-se a definir desenvolvimento como um processo que “satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”.
Os princípios da sustentabilidade podem ser divididos em três âmbitos: social, econômico e ambiental. Essa definição foi criada nos anos 1990 por John Elkington, cofundador da organização não governamental internacional SustainAbility. O nome dado a esse sistema é tripé da sustentabilidade. A seguir, uma breve explicação sobre cada pilar:
Imagem própria.
Social - O foco nesse âmbito é a qualidade de vida das pessoas. Portanto, trata de discutir o acesso a direitos básicos como direito à alimentação, lazer, moradia, trabalho, saúde, segurança e etc.
Econômico - Relacionado a questões de produção, distribuição e consumo de bens e serviços. Entretanto, é preciso levar em conta os outros dois aspectos (social e ambiental) para garantir um desenvolvimento econômico sustentável.
Ambiental - Trata de questões diretamente ligadas à preservação e conservação da Natureza. Interessante lembrar que esses dois termos são diferentes entre si. Enquanto a preservação significa a proteção integral de uma área, a conservação supõe a proteção com uso sustentável. Ou seja, os recursos naturais precisam ser utilizados para garantir a sobrevivência humana, porém com maior eficiência e respeito.
Esses três pilares se relacionam entre si e, nessa união, são produzidas ações alinhadas com a sustentabilidade. No próximo tópico, vamos aprofundar o entendimento sobre a ligação entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental.
O que é Ecoeficiência?
A união do âmbito econômico com a preservação ambiental produziu a ideia da Ecoeficiência. Em primeiro lugar, é importante entender que todas ações humanas geram impactos na Natureza. Entretanto, podemos tornar essa interação mais circular e equilibrada. Por exemplo, repensando a gestão de resíduos e questionando o excesso de acúmulo de bens por pequena parcela da sociedade. Segundo o Conselho Empresarial Mundial Para o Desenvolvimento Sustentável, a Ecoeficiência é:
“A entrega de bens e serviços que tragam qualidade de vida, reduzindo progressivamente impactos ambientais dos bens e serviços através de todo o ciclo de vida em linha com a capacidade estimada da Terra em suportar os impactos”.
Isso significa, basicamente, a tarefa de uma empresa em repensar suas prioridades e questionar práticas irresponsáveis de gestão dos recursos naturais. Esse tipo de atitude é necessária para a situação de emergência climática em que vivemos. O consumismo e a acumulação de renda são dois exemplos de práticas que colaboram com a crise ambiental. Caso essas condutas não sejam superadas, caminharemos cada vez mais em direção ao colapso climático.
Diante das urgências do século XXI, cada vez mais empresas buscam se adequar dentro do conceito de ecoeficiência. Isso é ótimo para conservação da Natureza, redução de gastos e até mesmo para a imagem da empresa. Entretanto, muitas vezes as ações sustentáveis de empresas são apenas uma fachada para conquistar um determinado público e, assim, gerar mais lucro. Esse tipo de atividade é chamada de Greenwashing. No próximo tópico, abordaremos mais profundamente esse conceito e as suas problemáticas.
O perigo do Greenwashing
O termo “Greenwashing” pode ser traduzido como “Lavagem Verde”, “Maquiagem Verde” ou, até mesmo, “Fachada Verde”. Trata-se de uma prática adotada por muitas empresas que se aproveitam da crise ambiental para cativar um público com um discurso “sustentável”. Ou seja, produtos que não oferecem nenhum benefício real para o Meio Ambiente, mas utilizam uma máscara de consciência ambiental para se vender.
Essa conduta passou a ser comum entre as empresas uma vez que as empresas perceberam que o perfil do consumidor mudou. Segundo uma pesquisa do Instituto Nielsen, lançada em junho de 2019, 42% dos consumidores brasileiros afirmam que se preocupam com o consumo focado na redução do impacto ambiental. Esse dado demonstra que as pessoas estão atrelando as suas decisões de compra com o comprometimento ambiental das empresas.
Diante disso, as corporações encontraram uma oportunidade para lucrar mais. A lavagem verde é, portanto, apenas uma propaganda enganosa relacionada à sustentabilidade. Para identificar se uma empresa está maquiando seus produtos de verde, aqui vão 3 dicas:
  1. Quando produtos se “vangloriam” por cumprir o mínimo. Por exemplo, “Este produto é livre de CFC”. Nesse caso, o CFC já é banido por lei. Portanto, a ausência dele na composição é apenas cumprir a legislação.
  2. Quando a comunicação visual sugere de forma exagerada a sustentabilidade do produto. Normalmente, esse tipo de tática é bem convincente. Muitas vezes nos iludimos com embalagens recicladas ou feitas de materiais orgânicos. Contudo, se fizermos uma pesquisa mais profunda, a linha de produção do determinado produto é tão convencional quanto tantas outras. Assim, o correto é procurar um certificado que comprove determinada ação ambiental.
  3. Quando uma informação isolada manipula o todo. Essa é a base de todas as fake news. Basicamente, utilizar uma informação que é verdadeira, mas ocultar todo o resto do quadro. Assim, focamos em detalhes ao invés de analisar toda a linha de produção. Um exemplo nesse caso são artigos de couro artesanais. A comunicação desses tipos de produtos prioriza o fato de serem produzidos à mão, mas escondem que o processo de fabricação é baseado em substâncias químicas nocivas à natureza.
Conclusão
A união de desenvolvimento sustentável e preservação ambiental pode ser possível, contanto que todos os atores sociais façam parte dessa transição: governos, empresas e sociedade civil. Somado a isso, é preciso questionar os valores que nos levaram ao colapso ambiental, como foi bem representado no filme Lorax. O acúmulo de bens, o consumismo e o individualismo, por exemplo, são condutas que limitam o avanço do combate às mudanças climáticas. O paradigma atual que prioriza o lucro acima do bem-estar da humanidade precisa ser superado, caso queiramos habitar o planeta Terra por mais tempo.
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