A poluição no mundo é reflexo das emissões locais
Os poluentes emitidos em uma determinada localidade podem viajar muitos quilômetros e atingir cidades e países vizinhos. Assim, a poluição no mundo é um problema coletivo e reflexo de emissões locais. Nesse artigo, você vai entender como isso acontece, quais são as consequências e o que pode ser feito.
1. O Efeito Dominó: como as emissões locais impactam os níveis de poluição no mundo?
O hábito de separar e encaixotar questões é um fenômeno moderno e, sobretudo, ocidental. Na cosmologia Yanomami, por exemplo, os mitos marcam uma visão de mundo em que o ser humano e a Natureza estão profundamente conectados. Não existe a ideia de separar o indivíduo do seu habitat. Basicamente, eles são a mesma coisa. Inclusive, a humanidade, em sua mitologia, surgiu das águas.
No documentário “A última floresta”, é apresentada a íntima relação dos indígenas com o vento, os rios, as árvores e os animais ao seu redor. Essa relação possibilita uma visão muito mais rica sobre o funcionamento da vida. Assim, para eles, é nítido que a exploração da Natureza leva a destruição e a morte. Nas palavras do próprio xamã “a fumaça da doença se espalha” com o homem branco.
Por outro lado, na perspectiva ocidental, tende-se a enxergar a Natureza como um organismo à parte. Nesse sentido, a humanidade falha em perceber as consequências catastróficas da exploração irresponsável de recursos naturais. Exemplo disso, é a resistência em compreender o efeito dominó da poluição do ar. Muitos ainda negam ou ignoram que o degelo da calota polar é uma realidade e que os resíduos da atividade industrial afetam outros territórios. Tudo isso é muito distante e até desimportante para a maioria das pessoas.
Entretanto, as consequências globais da emissão de poluentes locais já foram demonstradas por muitas pesquisas, como essa publicação da UNECE (Comissão Econômica das Nações Unidas para a Europa). Ademais, no último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) essa questão também é abordada com riqueza de detalhes. Em resumo, quando uma cidade está poluída, as condições meteorológicas influenciam diretamente na dispersão dos poluentes. Esse vídeo da Organização Mundial da Saúde explica de uma forma bastante didática como as emissões locais podem impactar os níveis de poluição no mundo.
Cena do documentário “A Última Floresta”, dirigido por Davi Kopenawa Yanomami e Luiz Bolognesi disponível no Netflix.
2. Quais são as consequências do efeito dominó de emissões locais na poluição global?
As queimadas Pantanal
Em 2020, o Pantanal sofreu uma enorme perda de biodiversidade, entre outros danos, por conta de incêndios originados em fazendas pecuaristas (fonte: Caracterização das áreas atingidas por incêndios em Mato Grosso : Instituto Centro de Vida (icv.org.br)). Foram as piores queimadas desde que o INPE começou a registrar os números, em 1998. Porém, não foi apenas essa região que sentiu os impactos do fogo criminoso. A fumaça resultante viajou cerca de 4 mil km e atingiu também países vizinhos, o Sudeste e o Sul do Brasil.
Imagem ilustrativa de uma cidade que enfrenta névoa decorrente da poluição atmosférica.
A névoa que apareceu nos dias consecutivos ao incêndio em cidades próximas é um exemplo do efeito dominó mencionado. Essas queimadas são a principal fonte de emissão de poluentes atmosféricos nas regiões do Brasil central e na Amazônia, segundo esse artigo da WRI Brasil. Porém, estão longe de serem problemas locais, pois a poluição do ar atravessa as fronteiras estaduais e nacionais. Isso ocorre em virtude das correntes de ar que circulam entre os territórios. Dessa maneira, a fumaça das queimadas viaja e interfere a qualidade do ar em diferentes localidades.
Imagem do satélite da semana das queimadas em setembro de 2020, confirmando o corredor aéreo que dispersa a poluição atmosférica para outras regiões.
Como se dá a poluição do ar e da água a partir das queimadas?
Esses incêndios liberam gases de efeito estufa e material particulado (MP) na atmosfera. Isso, por si só, já compromete a qualidade do ar. Além disso, o MP tem interferência direta no regime de chuvas e pode causar, inclusive, aumento da precipitação, alteração na cor e na acidez da água. Ou seja, existe, ao mesmo tempo, contaminação aérea e aquática.
Buraco na camada de Ozônio no Pólo Sul
Outro exemplo do impacto global de emissões locais é o enorme buraco na camada de ozônio no Pólo Sul, especialmente. Por mais que não exista atividade humana na região, o clorofluorcarboneto (CFC), principal poluente responsável pela fenda na camada de ozônio, é capaz de percorrer longas distâncias através das correntes aéreas. Esse fato somado às baixas temperaturas do lugar intensifica o rompimento da camada, que em 2021 alcançou uma proporção maior que a de costume. Assim, tanto o Pólo Sul quanto o Norte, tornam-se depósitos de gases contaminantes.
Quais são os efeitos do buraco na camada de ozônio na humanidade?
Sem a camada de ozônio, não há proteção ou barreira contra os raios ultravioletas. Isso significa que os seres vivos ficam mais suscetíveis aos efeitos nocivos desse raio. Algumas das consequências podem ser, por exemplo, aumento de casos de câncer de pele.
Ou seja, mais uma vez observa-se uma série de acontecimentos resultantes de poluição antropogênica. Em todos os casos os efeitos envolvem, principalmente, a piora na saúde humana.
3. Como os níveis de poluição no mundo podem ser resolvidos?
Desafios Internacionais
Uma vez que a poluição no ar pode se dispersar por regiões além do seu lugar de origem, ela passa a ser um problema internacional. O efeito dominó desse tipo de contaminação é possível por conta do próprio fluxo da atmosfera. Isso pede por uma força tarefa global, que envolve decisões e esforços entre as nações.
Por conta disso, em 1979 foi criada a Convenção sobre a Poluição Atmosférica Transfronteiriça a Longa Distância. Essa convenção foi instituída com o objetivo de discutir, estudar e traçar estratégias de proteção ambiental contra as consequências da poluição atmosférica. Especialmente devido a sua capacidade de impactar espaços que cruzam as fronteiras regionais, nacionais e internacionais. Entretanto, essa convenção não inclui o Brasil, apenas signatários da União Européia, outros países europeus, Canadá e Estados Unidos da América.
No Brasil
O entendimento que a qualidade do ar é uma questão coletiva veio aos poucos no Brasil, mais precisamente na década de 60. Nesse momento, a população passou a perceber mais o aumento da poluição. Dessa maneira, surgiu a Comissão Intermunicipal de Controle da Poluição das Águas e do Ar (CICPAA), que cobria quatro municípios do Estado de São Paulo. Através de financiamento da OMS, essa comissão pôde realizar as primeiras medições oficiais da qualidade do ar em 1965.
No âmbito federal, atualmente, a principal lei que envolve a gestão da qualidade do ar é a nº 6.938/1981, que institui a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA). Essa lei abrange medidas como:
Contudo, a aplicação da lei ainda é bastante falha. Alguns dos motivos são dificuldades de atualização nos padrões nacionais de qualidade do ar, carências financeiras e de recursos humanos e a ausência de um abrangente inventário nacional de emissões. Para entender essa questão mais a fundo, indicamos esse artigo da WRI, anteriormente mencionado.
4. Conclusão
A separação do ser humano e da natureza é o aspecto cultural determinante para entendermos como chegamos no ponto crítico de colapso ambiental. Deixamos como sugestão, portanto, o documentário “A Última Floresta”, disponível na Netflix e abordado no início do artigo, como uma provocação para refletir.
Além da questão cultural, outras barreiras para a resolução desse problema são a cooperação internacional e a frágil legislação ambiental. Assim, a poluição atmosférica é tida como uma questão multidisciplinar que deve ser superada de forma coletiva, diante da sua complexidade e abrangência.
O Instituto Ar é pioneiro em tratar questões ambientais e seus impactos na saúde. Para ler nossas publicações, basta clicar nesse link. Porém, se você quer ler mais artigos simples como esse, clique aqui.
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1. O Efeito Dominó: como as emissões locais impactam os níveis de poluição no mundo?
O hábito de separar e encaixotar questões é um fenômeno moderno e, sobretudo, ocidental. Na cosmologia Yanomami, por exemplo, os mitos marcam uma visão de mundo em que o ser humano e a Natureza estão profundamente conectados. Não existe a ideia de separar o indivíduo do seu habitat. Basicamente, eles são a mesma coisa. Inclusive, a humanidade, em sua mitologia, surgiu das águas.
No documentário “A última floresta”, é apresentada a íntima relação dos indígenas com o vento, os rios, as árvores e os animais ao seu redor. Essa relação possibilita uma visão muito mais rica sobre o funcionamento da vida. Assim, para eles, é nítido que a exploração da Natureza leva a destruição e a morte. Nas palavras do próprio xamã “a fumaça da doença se espalha” com o homem branco.
Por outro lado, na perspectiva ocidental, tende-se a enxergar a Natureza como um organismo à parte. Nesse sentido, a humanidade falha em perceber as consequências catastróficas da exploração irresponsável de recursos naturais. Exemplo disso, é a resistência em compreender o efeito dominó da poluição do ar. Muitos ainda negam ou ignoram que o degelo da calota polar é uma realidade e que os resíduos da atividade industrial afetam outros territórios. Tudo isso é muito distante e até desimportante para a maioria das pessoas.
Entretanto, as consequências globais da emissão de poluentes locais já foram demonstradas por muitas pesquisas, como essa publicação da UNECE (Comissão Econômica das Nações Unidas para a Europa). Ademais, no último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) essa questão também é abordada com riqueza de detalhes. Em resumo, quando uma cidade está poluída, as condições meteorológicas influenciam diretamente na dispersão dos poluentes. Esse vídeo da Organização Mundial da Saúde explica de uma forma bastante didática como as emissões locais podem impactar os níveis de poluição no mundo.
Cena do documentário “A Última Floresta”, dirigido por Davi Kopenawa Yanomami e Luiz Bolognesi disponível no Netflix.
2. Quais são as consequências do efeito dominó de emissões locais na poluição global?
As queimadas Pantanal
Em 2020, o Pantanal sofreu uma enorme perda de biodiversidade, entre outros danos, por conta de incêndios originados em fazendas pecuaristas (fonte: Caracterização das áreas atingidas por incêndios em Mato Grosso : Instituto Centro de Vida (icv.org.br)). Foram as piores queimadas desde que o INPE começou a registrar os números, em 1998. Porém, não foi apenas essa região que sentiu os impactos do fogo criminoso. A fumaça resultante viajou cerca de 4 mil km e atingiu também países vizinhos, o Sudeste e o Sul do Brasil.
Imagem ilustrativa de uma cidade que enfrenta névoa decorrente da poluição atmosférica.
A névoa que apareceu nos dias consecutivos ao incêndio em cidades próximas é um exemplo do efeito dominó mencionado. Essas queimadas são a principal fonte de emissão de poluentes atmosféricos nas regiões do Brasil central e na Amazônia, segundo esse artigo da WRI Brasil. Porém, estão longe de serem problemas locais, pois a poluição do ar atravessa as fronteiras estaduais e nacionais. Isso ocorre em virtude das correntes de ar que circulam entre os territórios. Dessa maneira, a fumaça das queimadas viaja e interfere a qualidade do ar em diferentes localidades.
Imagem do satélite da semana das queimadas em setembro de 2020, confirmando o corredor aéreo que dispersa a poluição atmosférica para outras regiões.
Como se dá a poluição do ar e da água a partir das queimadas?
Esses incêndios liberam gases de efeito estufa e material particulado (MP) na atmosfera. Isso, por si só, já compromete a qualidade do ar. Além disso, o MP tem interferência direta no regime de chuvas e pode causar, inclusive, aumento da precipitação, alteração na cor e na acidez da água. Ou seja, existe, ao mesmo tempo, contaminação aérea e aquática.
Buraco na camada de Ozônio no Pólo Sul
Outro exemplo do impacto global de emissões locais é o enorme buraco na camada de ozônio no Pólo Sul, especialmente. Por mais que não exista atividade humana na região, o clorofluorcarboneto (CFC), principal poluente responsável pela fenda na camada de ozônio, é capaz de percorrer longas distâncias através das correntes aéreas. Esse fato somado às baixas temperaturas do lugar intensifica o rompimento da camada, que em 2021 alcançou uma proporção maior que a de costume. Assim, tanto o Pólo Sul quanto o Norte, tornam-se depósitos de gases contaminantes.
Quais são os efeitos do buraco na camada de ozônio na humanidade?
Sem a camada de ozônio, não há proteção ou barreira contra os raios ultravioletas. Isso significa que os seres vivos ficam mais suscetíveis aos efeitos nocivos desse raio. Algumas das consequências podem ser, por exemplo, aumento de casos de câncer de pele.
Ou seja, mais uma vez observa-se uma série de acontecimentos resultantes de poluição antropogênica. Em todos os casos os efeitos envolvem, principalmente, a piora na saúde humana.
3. Como os níveis de poluição no mundo podem ser resolvidos?
Desafios Internacionais
Uma vez que a poluição no ar pode se dispersar por regiões além do seu lugar de origem, ela passa a ser um problema internacional. O efeito dominó desse tipo de contaminação é possível por conta do próprio fluxo da atmosfera. Isso pede por uma força tarefa global, que envolve decisões e esforços entre as nações.
Por conta disso, em 1979 foi criada a Convenção sobre a Poluição Atmosférica Transfronteiriça a Longa Distância. Essa convenção foi instituída com o objetivo de discutir, estudar e traçar estratégias de proteção ambiental contra as consequências da poluição atmosférica. Especialmente devido a sua capacidade de impactar espaços que cruzam as fronteiras regionais, nacionais e internacionais. Entretanto, essa convenção não inclui o Brasil, apenas signatários da União Européia, outros países europeus, Canadá e Estados Unidos da América.
No Brasil
O entendimento que a qualidade do ar é uma questão coletiva veio aos poucos no Brasil, mais precisamente na década de 60. Nesse momento, a população passou a perceber mais o aumento da poluição. Dessa maneira, surgiu a Comissão Intermunicipal de Controle da Poluição das Águas e do Ar (CICPAA), que cobria quatro municípios do Estado de São Paulo. Através de financiamento da OMS, essa comissão pôde realizar as primeiras medições oficiais da qualidade do ar em 1965.
No âmbito federal, atualmente, a principal lei que envolve a gestão da qualidade do ar é a nº 6.938/1981, que institui a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA). Essa lei abrange medidas como:
- Monitoramento da qualidade do ar: acompanhar a situação do ar em determinada localidade.
- Padrões de qualidade do ar: estabelecer objetivos, além de atuar como instrumentos da PNMA.
- Controle de fontes de emissão: ocorre a partir da exigência de licenciamento ambiental e de revisão dessas atividades.
- Desenvolvimento tecnológico-científico: incentivar a pesquisas científicas e, portanto, obter dados mais precisos e de qualidade.
- Informação ambiental: disponibilizar dados e outras informações sobre a qualidade do ar através da divulgação para a sociedade civil.
Contudo, a aplicação da lei ainda é bastante falha. Alguns dos motivos são dificuldades de atualização nos padrões nacionais de qualidade do ar, carências financeiras e de recursos humanos e a ausência de um abrangente inventário nacional de emissões. Para entender essa questão mais a fundo, indicamos esse artigo da WRI, anteriormente mencionado.
4. Conclusão
A separação do ser humano e da natureza é o aspecto cultural determinante para entendermos como chegamos no ponto crítico de colapso ambiental. Deixamos como sugestão, portanto, o documentário “A Última Floresta”, disponível na Netflix e abordado no início do artigo, como uma provocação para refletir.
Além da questão cultural, outras barreiras para a resolução desse problema são a cooperação internacional e a frágil legislação ambiental. Assim, a poluição atmosférica é tida como uma questão multidisciplinar que deve ser superada de forma coletiva, diante da sua complexidade e abrangência.
O Instituto Ar é pioneiro em tratar questões ambientais e seus impactos na saúde. Para ler nossas publicações, basta clicar nesse link. Porém, se você quer ler mais artigos simples como esse, clique aqui.
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